Ambidestria Organizacional: o equilíbrio de explotação e exploração

DIWE
July 31, 2023
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08 minutos
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Negócios

Ambidestria organizacional: conceito e prática

Diversos executivos identificam que as organizações das quais gerenciam não seguem modelos de gestão adequados aos tempos atuais. Em uma tentativa de atualizar a empresa, os gestores vivem uma verdadeira corrida contra o tempo. 

O resultado disso acaba não sendo muito positivo. Os executivos se deparam com a implementação de planos de ação ineficazes, ideias que quando postas em prática já estão desatualizadas e entraves burocráticos internos.

A ausência de uma metodologia ágil e processos de inovação adequados deixa a empresa presa em uma gestão tradicional e atrasada. Em contraponto, sem a manutenção do core business atual, a empresa não gera receita que a mantém ativa.

Neste contexto de incertezas, o que seria mais importante? Priorizar a manutenção do principal ativo da empresa ou investir nas tendências que prometem alta demanda? 

A resposta é simples, a empresa precisa estar preparada para exercer a Ambidestria Organizacional, ou seja, atuar simultaneamente em duas frentes. Entenda mais sobre este assunto.

O que é Ambidestria Organizacional?

Embora o termo ambidestria organizacional tenha surgido por volta da década de 1970, ele passou a ser mais difundido somente nos últimos tempos. Ampliar o conhecimento a respeito da expressão se faz tão necessário, que grandes universidades estão oferecendo especialização para capacitar profissionais em gestão empresarial Ambidestra.

Segundo propuseram os autores Michael L. Tushman e Charles A. O'Reilly, a definição do termo seria “a capacidade de buscar simultaneamente inovação incremental e descontínua - hospedando múltiplas estruturas, processos e culturas contraditórias dentro da mesma empresa”.

Em outras palavras, a Ambidestria Organizacional se refere ao equilíbrio que uma empresa deve ter a fim de sustentar duas frentes de trabalho ao mesmo tempo. Mantendo o dinamismo exigido de cada lado. O termo traz uma analogia à habilidade que uma pessoa tem de utilizar as duas mãos com igual competência. Se destaca, principalmente, na escrita.

Agora trazendo para a realidade gerencial, a Ambidestria Organizacional é o equilíbrio do movimento da empresa em proporcionar o crescimento do negócio atual ao mesmo tempo que explora novas oportunidades.

Explotação e Exploração

Em um artigo intitulado como Exploration and Exploitation in Organizational Learning, de 1991, o autor James G. March reflete sobre os dois direcionadores organizacionais: Explotação e Exploração. Ele sinaliza que as empresas preferem somente explotar, por apresentar resultados a curto prazo. Enquanto a exploração não parece ser tão interessante por realizar entregas a longo prazo. Entretanto, March comenta que essa decisão de apenas explotar pode ser autodestrutiva ao longo do tempo, já que ambos direcionadores (explotar e explorar) são importantes para o futuro da empresa.

Vamos às definições:

Explotar

Não é um termo muito comum, mas refere-se aos movimentos de reaproveitamento de algo já existente. No cenário empresarial, é o refinamento de produtos e serviços consolidados na empresa. Trata-se de uma inovação incremental. Envolve fazer bem a mesma coisa por muito tempo.

Explorar

A exploração, a partir de experimentos, permite novas descobertas. No cenário empresarial, refere-se à oportunidade de penetrar em áreas das quais a empresa não tem domínio. São mercados desconhecidos, mas apresentam grande potencial de crescimento. Trata-se da inovação disruptiva. Envolve riscos na tomada de decisão.

Em resumo

As empresas devem se preocupar em depositar esforços nos dois lados da balança, para manter o equilíbrio. Afinal, apenas inovar não é o bastante, porém a estagnação leva à falência.

Neste caso, a exploração é o aprendizado que leva a vantagem competitiva. Mas exige um movimento de pesquisa e descoberta de algo novo, não validado, por isso, envolve risco. Na explotação, a empresa procura agradar as necessidades dos clientes. Ela aperfeiçoa a experiência que eles têm no consumo do produto ou serviço vigente. Mas sem planejamento para ações futuras.

Um detalhe importante que não deve passar despercebido. Segundo James G. March, o apontamento dos prazos (curto e longo) é visto como o diferencial. As empresas preferem a explotação no lugar da exploração, devido ao curto prazo.

Mas vale destacar, que a pesquisa sobre estes movimentos (exploração e explotação) foi feita em um contexto econômico e de mercado diferente da realidade que vemos hoje. Assim como apresentado no artigo sobre os Horizontes de Inovação as inovações incrementais e disruptivas não precisam ser associadas a um prazo específico.

No período auge da pandemia de Covid-19, as empresas foram forçadas a desenvolver a inovação disruptiva em um período de tempo muito curto. Enquanto as organizações desatualizadas e engessadas não conseguiram acompanhar o movimento abrupto do mercado e foram levadas à falência.

O aprendizado deste triste período no cenário mundial trouxe nova perspectiva sobre a nomeação de curto e longo prazo para a inovação incremental e a disruptiva, respectivamente. Além disso, o uso de ferramentas, aperfeiçoamento de novas tecnologias e aprimoramento do trabalho em conjunto com parceiros estratégicos faz com que as novas descobertas sejam exploradas tão rapidamente como num processo incremental.

Caminhos da Ambidestria

Não é uma tarefa fácil transformar o mindset da alta administração para entender a necessidade de exercer a Ambidestria. Principalmente, quando o tema da vez é: enxugar custos e zero recursos.

Entretanto, quando avaliamos casos reais, vemos a importância das atividades ambidestras para que essas organizações conquistem novos espaços no mercado.

Ambev

O principal negócio da Ambev é a bebida. Refrigerantes, água e cervejas. De olho em novas possibilidades de estimular a venda de seu produto “carro chefe”, ao mesmo tempo em que explora um novo mercado, a empresa optou por investir no Zé Delivery. 

O Zé Delivery é um startup desenvolvida em um dos programas de inovação da Ambev. A ideia principal do negócio é fazer entregas de bebidas geladas, a preço de mercado.

Amazon

A empresa já surgiu como inovadora. Afinal, sua comercialização era totalmente online, sem loja física, em um período em que esta prática não era tão comum. A Amazon iniciou suas atividades com a venda de produtos eletrônicos e livros.

Anos mais tarde, quando o comércio de livros foi perdendo espaço, a empresa inovou mais uma vez. Lançou o seu próprio produto físico, o Kindle. Se carregar livros pesados era um obstáculo, o Kindle tornou possível transportar vários livros em um único produto leve, portátil e com regulagem de iluminação adequada para dar conforto na leitura na tela.

Basta se conectar por login e senha que a compra de um novo livro pode ser feita pelo próprio Kindle, ou em qualquer outro aparelho (computador ou smartphone), desde que a pessoa acesse o site da Amazon e entre em sua conta.

Conclusão

As vantagens em implementar uma gestão ambidestra são: vantagem competitiva, melhoria contínua nos processos, sustentabilidade do negócio, manutenção e conquista de novos clientes, posicionamento da marca e equipes mais comprometidas e “donas” do negócio. Entre outras, afinal, cada empresa identifica seus próprios ganhos.

Com um olhar voltado para grandes companhias, de variadas indústrias, é possível observar como as empresas ambidestras afastam as ameaças do negócio com maior facilidade. 

Mas vale lembrar que não é possível determinar um passo a passo para pôr em prática a Ambidestria. As empresas devem fazê-la para estarem prontas para as constantes e repentinas transformações do mercado.

Exercitar a Ambidestria é uma estratégia organizacional e exige amplo conhecimento dos líderes e gestores. Cabe a eles definir quais os veículos de inovação a serem utilizados, disseminar a estrutura ambidestra escolhida pela empresa, de modo a transmitir os reais valores percebidos pela companhia, e definir quais os mecanismos de interação do tradicional e o novo. 

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